29 novembro 2006

Lisbon Underground Music Ensemble (25 Novembro 2006)

[Crítica-TAGV]

Lisbon Underground Music Ensemble: Foto © LUME

Assistir ao Concerto de LUME foi uma experiência interessante. De sonoridade generosamente amplificada, as harmonias tornavam-se interessantes e o ritmo de várias das músicas contagiava. Éramos poucos na sala (não contei mas devia andar pela meia centena) mas os aplausos finais devem ter compensado os músicos pela reacção morna durante o espectáculo. No entanto essa reacção foi bastante incutida pelos próprios músicos, em particular o seu Director e Compositor, com uma falta de jeito algo exagerada na sua presença em palco... Foi incrível a mudança que o extra trouxe quando todos os músicos, surpreendidos pela quantidade de aplausos, voltaram ao palco. A sua descontracção e alegria ao fazer música transpareceu finalmente.

LUME, um projecto a seguir com atenção. Só precisam de ganhar o palco pois em música parecem-me no bom caminho. Eu gostei e não fui o único. Apenas um comentário ao Técnico de Luzes do TAGV: quando o público aplaude, e no caso muitos de pé, não iluminem só o palco deixando a plateia completamente às escuras pois os músicos também gostam de ver a forma como são apreciados.

Rodrigues Cunha, 29-11-2006, in Coimbra é Nossa

25 novembro 2006

escrileituras (Janeiro a Dezembro 2006)

[Arquivo-TAGV]

A ideia parece simples, pelo menos na forma que tomou: alguém que escreve lê um texto de outro alguém que escreve. Escrita e leitura surgem como actos de produção de sentido co-equivalentes e interdependentes. O potencial sémico contido nos signos escritos depende, por definição, dos actos de leitura. Estes activam protocolos estabelecidos, que produzem comunidades de intérpretes e práticas de leitura, mas constituem igualmente actos de descoberta e de invenção. Uma parte importante do exercício humano da liberdade consiste nesta criação de sentido - sentido não previsto e nunca inteiramente determinado. Foi esse o exercício proposto, uma vez por mês, aos escrileitores que passaram pelo Café-Teatro do TAGV ao longo de 2006: Abel Barros Baptista (com «A Chinela Turca», de Machado de Assis), Hélia Correia (com «Antígona», de Sófocles), Mário de Carvalho (com «Carta a Garcia», de José Cardoso Pires), Manuel António Pina (com «Winnie the Pooh / Joanica Puff», de A.A. Milne), Luís Quintais (com «Stirrings Still / Estremecimentos», de Samuel Beckett), Ana Luísa Amaral (com «Um Adeus Português» e «Albertina», de Alexandre O'Neill), Alface (com «Última Saída para Brooklyn», de Hubert Selby Jr.), Osvaldo Manuel Silvestre (com «Natura et Ars», de Adília Lopes), Teolinda Gersão (com «O Último Homem», de Albert Camus), Eduardo Pitta (com «Sinais de Fogo», de Jorge de Sena) e José Emílio-Nelson (com «Sedução», de José Marmelo e Silva). Reabrir os textos, descascá-los, perceber o seu modo particular de revelar a linguagem e o mundo.
MP






















24 novembro 2006

Fios e botões

[Máquina-TAGV]


António Mingocho e José Balsinha, TAGV, Serviços Técnicos: fotos de Maria Miguel Ferrão (28-07-2006 e 14-09-2006).

Se o Teatro pode ser descrito como engrenagem e os que nele trabalham como peças dessa engrenagem, como descrever as máquinas senão como outras tantas peças? Vistos deste modo, instrumentos de trabalho e trabalhadores estão irmanados na grande fábrica cénica que os tomou ao seu serviço. Mesmo que lhes falte, como é forçoso que falte, alguma espécie de percepção do todo de que fazem parte. E da natureza técnica desse todo. Num certo sentido, todas as formas de trabalho são técnicas. Sejam ou não mediadas por dispositivos tecnológicos específicos, de carácter mecânico, eléctrico ou electrónico. Na medida em que o conjunto do trabalho se organiza por divisão e especialização funcional, a instituição pode ser vista como máquina de cena. Na morfologia desta máquina, cabe aos serviços técnicos garantir o funcionamento dos dispositivos cénicos. Amplificar o som e dirigir a luz, contrapesar as varas e suster os cenários, ajustar graves e agudos, misturar azuis e vermelhos. Estes dependem, por seu turno, da infraestrutura eléctrica e das redes de comunicações que asseguram a transmissão de sinais de dispositivo em dispositivo. Os gestos de accionar botões e de ligar fios dão-nos, porventura, uma imagem mais literal do Teatro como engrenagem e como máquina. A materialidade do código cénico - as frases de luz, os enunciados de som, a gramática de movimentos - são predicados daquela circulação eléctrica de sinais. Fios e botões formam o sistema nervoso do Teatro enquanto máquina de cena.
MP

16 novembro 2006

Intervalo TAGV (14 Novembro 2006)

[Notícia-TAGV]



Intervalo TAGV: Concertos Didácticos com o Conservatório de Música de Coimbra. Fotos MP (14-11-2006).

Intervalo TAGV: Concertos Didácticos é uma co-organização do Teatro Académico de Gil Vicente e do Conservatório de Música de Coimbra. Como parte da programação educativa, o TAGV dispõe-se a reforçar a sua intervenção na área da música. A sensibilização para a música é um passo preliminar para o conhecimento, para a fruição e para a prática musical. Através de concertos centrados em determinados instrumentos, géneros e formas musicais, procuraremos desenvolver o gosto pela música. Os concertos serão dirigidos, de forma diferenciada, aos vários níveis etários e escolares, do pré-escolar ao universitário. Esta iniciativa, integrada no plano de actividades do Conservatório de Música de Coimbra, terá periodicidade bimensal e prolongar-se-á ao longo de toda a temporada.

O primeiro concerto desta série foi dedicado à família dos aerofones, em especial a instrumentos de sopro de metal. Compareceram no Intervalo TAGV, por esta ordem: dois trompetes, uma trompa, um trombone, uma tuba e um bombardino. Cerca de 150 crianças, dos 3 aos 10 anos, participaram na plateia nos jogos de atenção propostos por Manuel Rocha: primeiro, reparando nos rituais de aplauso do espectáculo e na própria sala como uma "sala de ver e ouvir"; depois, identificando os timbres de cada um dos instrumentos, as formas de alteração do som e a extensão de cada um deles. Por fim, com todas as crianças sentadas no palco, foram tocados dois andamentos da peça escolhida para aquele naipe de instrumentos.
MP

14 novembro 2006

Percutir o universo (11 Novembro 2006)

[Arquivo-TAGV]




Drumming - Grupo de Percussão, dirigido por Miquel Bernat, TAGV, Festival de Música de Coimbra. Fotos de Susana Neves (11-11-2006).

13 novembro 2006

O negro da estrela (11 Novembro 2006)

[Arquivo-TAGV]

Imagem óptica do Pulsar e da Supernova de Vela, do Southern H-Alpha Sky Survey Atlas (SHASSA), obtida pelo Cerro Tololo Inter-American Observatory (CTIO) de La Serena, Chile. © CTIO.

A observação do universo mostra-nos como o real é também um produto dos instrumentos de observação com que o perscrutamos. São estes que o tornam visível e audível e lhe conferem a materialidade que o torna observável e representável. Ainda que as suas propriedades físicas sejam independentes dessa interacção, a sua forma perceptiva particular é uma função do modo como as máquinas de ver e de ouvir percorrem e desvendam o espectro electromagnético. Pulsares e radiotelescópios são um bom exemplo dessa possibilidade de construção de um objecto pelo instrumento usado para o observar. Os pulsares são estrelas de neutrões pequenas e densas, cujo campo gravitacional pode ser 1 bilião de vezes o campo terrestre. Crê-se que os pulsares resultam de estrelas que entraram em colapso ou de supernovas. Acompanhando a rotação da estrela, os pólos magnéticos emitem um fluxo de energia constante, que se espalha pelo espaço como o feixe de luz de um farol, mas indetectável no espectro visível. Esta débil radiação, captada pelos radiotelescópios, pode ser convertida numa pulsação sonora. É também a partir dela que algumas das propriedades e da história dos pulsares pode ser inferida.

Imagem do jacto de partículas do Pulsar de Vela. Foto: observatório de Raios-X Chandra. © NASA.

Gérard Grisey (1946-1990) usou este intervalo periódico dos primeiros pulsares detectados como ponto de partida para a complexa estrutura da obra «Le Noir de L'Etoile», interpretada pelo Drumming-GP no TAGV na noite de 11 de Novembro de 2006. Seis plataformas dispostas em vários pontos da sala permitem simular a música do universo como percussão hexafónica. O desenvolvimento em eco e em contraponto das estruturas rítmicas e das massas sonoras, que ora diminuem em direcção ao silêncio e ao som singular, ora crescem em direcção a uma polifonia exuberante, sugerem a complexidade de sinais das formas estelares, dos aglomerados de galáxias aos corpos singulares. O acto de perscrutar a radiação electromagnética do universo surge transfigurado nos modos de escuta induzidos pelas ondas sonoras emitidas pelas membranas e lâminas percutidas. Tímbales, timbaletes, vibrafones, xilofones, tambores, pratos, tom-tons, caixas, bombos, congas, bongos, gongos, baquetas, martelos, varas, varetas, badalos, vassouras, crótalos, castanholas, guizos, carrilhões, sinos, maracas, etc. são os instrumentos desses sinais. Através desse percutoscópio, a música revela-se como uma estrela negra cuja forma se constrói com o ouvido que a escuta.
MP

09 novembro 2006

O papel dos papéis

[Máquina-TAGV]


António Patrício e Isabel Rodrigues, TAGV, Serviços Administrativos: fotos de Maria Miguel Ferrão (28-07-2006)

Para que servem os papéis? Podemos organizar-nos sem papéis? Ofícios, memorandos, actas, relatórios, minutas, actas, contratos, sinopses, currículos, projectos, propostas, anexos, adendas, tabelas, gráficos, regulamentos, protocolos, despachos, concursos, orçamentos, facturas, recibos, balanços, compromissos, cabimentos, cheques, folhas, bilhetes, escalas, planos, plantas, comunicações, avisos, mensagens, recados, reclamações, fichas, processos, dossiês, arquivos. Todos os dias milhares e milhares de símbolos circulam, em papel e em formato digital, de secretária para secretária e de computador para computador. Uma parte substancial da actividade do Teatro depende deste mar de papel e de mensagens, que todos os dias é preciso conter e que todos os dias ameaça submergir-nos de novo. Cada utilização do Teatro gera um rasto interminável de descrições: nas propostas, nos contratos, nas aquisições, nos programas. Há nisto tudo um paradoxo: os papéis, que servem para eliminar a arbitrariedade das decisões e dar uma ordem jurídica aos gestos, parecem ser ao mesmo tempo a fonte da entropia que toma conta das mesas e dos espíritos. Administrar é manter-se à tona desse remoinho. É não perder a noção de que o objectivo dos papéis não são os próprios papéis. É deixar as folhas voar.
MP

06 novembro 2006

Escaparate TAGV

[Recorte-TAGV]


Ainda que não se assuma como uma das áreas de eleição das salas de espectáculo, o território da leitura tem merecido uma atenção continuada do TAGV. Que hoje estreia o seu Escaparate. As propostas sucederam-se ao longo dos anos, encontrando-se reunidas numa espécie de memória afectiva partilhada pelo Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), em Coimbra, com um conjunto mais ou menos fiel de público e leitores. Alicerçadas sempre em torno dos livros e da leitura, às propostas “Palavras que nos ficam da usura dos dias” ou, a mais recente, “escrileituras”, irá suceder-se já hoje o “Escaparate TAGV”. Nesta nova proposta, a direcção da sala da Universidade de Coimbra tem como grande objectivo lançar um “mensário de actualidade editorial”, com [...] a colaboração de quatro convidados - António Apolinário Lourenço, Luís Quintais, Osvaldo Manuel Silvestre e Rui Bebiano -, especializados em quatro áreas diversas. Com entrada livre, “Escaparate TAGV” abre este final de tarde, às 18H00, no café-teatro, tendo como objectivo acompanhar a edição em Portugal, através de uma selecção mensal de títulos publicados. É ainda intenção do novo programa de divulgação editorial convidar, para cada sessão, uma pessoa exterior ao grupo para apresentar e recomendar um livro de sua especial preferência. Com esta iniciativa, o TAGV pretende “contribuir para o conhecimento dos livros enquanto parte essencial de um espaço público informado”.

A iniciativa, de acordo com uma nota da produção, irá envolver quatro professores da área das ciências humanas e sociais na Universidade de Coimbra. António Apolinário Lourenço e Osvaldo Manuel Silvestre centram a sua atenção na literatura (a infantil, incluída), na crítica literária e no ensaio cultural e estético em geral. Rui Bebiano ocupa-se da história, da cultura contemporânea e do ensaio cultural e político. Luís Quintais resenha a área da antropologia e da psiquiatria, da divulgação científica e da ética aplicada às questões de ciência e tecnologia. Ainda de acordo com a nota enviada às redacções, os quatro participantes no “Escaparate TAGV” possuem uma prática já longa de colaboração em vários media, jornais, rádio, publicações em linha (de que foram em vários casos pioneiros). António Apolinário Lourenço é professor de Literatura Espanhola na Universidade de Coimbra, director do Instituto de Estudos Espanhóis da mesma Universidade e membro da Comissão Executiva do Centro de Literatura Portuguesa. Luís Quintais é antropólogo, ensaísta, e poeta. Como antropólogo trabalha fundamentalmente sobre as relações entre cognição, biotecnologias e bioarte. Trabalha também sobre escritas etnográficas. Osvaldo Manuel Silvestre é professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde ensina Teoria da Literatura e Estética, entre outras matérias. Rui Bebiano é professor de história contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Participou nos anos 80 na renovação dos estudos barrocos. Em 1997 doutorou–se com uma tese sobre a evolução da ideia de guerra entre os séculos XVI e XVIII. Trabalha desde essa altura sobre culturas juvenis e sobre representações contemporâneas do passado.

Lídia Pereira, As Beiras, 06-11-2006

03 novembro 2006

Instantâneos TAGV (3)

[Máquina-TAGV]

Cinzeiro-Papeleira em aço inox, foyer de entrada do TAGV: PDS (30.10.2006)

De aparência elegante, sóbria e austera, os cinzeiros-papeleiras que se encontram nos foyers do TAGV albergam não só a cinza e as pontas dos cigarros dos fumadores, mas também um alargado espectro de desperdícios abandonado pelos frequentadores do edifício. O que lhes permite assimilar uma parte da sua memória. Ainda que possa não ser a mais agradável.
PDS

01 novembro 2006

Novembro 2006

[Arquivo-TAGV]


A música domina o mês de Novembro, que abre com a segunda parte do festival Jazz ao Centro, cuja existência continua a consolidar-se. O TAGV acolhe, desta vez, o Quinteto de Mário Santos, o trio Kühn/Humair/Chevillon e o Gábor Gadó Quartet. Recebemos ainda Michael Nyman a solo e a cantora de jazz Jacinta. Outras quatro noites de concerto pertencem ao Festival de Música de Coimbra, com os agrupamentos Drumming GP, Artrio, Jean-Yves Fourmeau e Lisbon Underground Ensemble. Quatro são as noites de cinema, em co-organização com o Fila K Cineclube e com a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Quatro são também as noites de teatro, com as últimas produções da Marionet, «Bengala dos Cegos» (estreia) e do Teatro Instável, que revisita Hamlet através da «Gargalhada de Yorick». Uma peça do repertório clássico preenche a única noite de dança, com O Quebra-Nozes, de Tchaikovsky, originalmente estreada em 1892. Da programação educativa, destaque-se o início do ciclo de concertos didácticos «intervalo», em co-organização com o Conservatório de Música de Coimbra. No Café-Teatro, uma nova iniciativa mensal, «escaparate», vem juntar-se ao ciclo «escrileituras». Além da retrospectiva fotográfica do Jazz ao Centro, podemos ver as altas fotografias de Rita Carmo.
MP